Jean Michel Jarre
É um comodo ao sul da cidade.
O lugar é moderno, mobiliado as pressas, dir-se–ia, com móveis do inicio do modern style.
Ele diz : não escolhi os móveis.
Esta escuro no apartamento, ela não pede que ele abra as persianas.
Ela esta sem um sentimento muito definido, sem raiva, sem repugnância também, então ali talvez já exista desejo.
Ela ignora tudo a respeito.
Consentiu em vir desde que ele pediu na véspera a noite.
Está, ou é preciso que esteja, deslocada ali.
Tem um pouco de medo.
Parecia na verdade que aquilo devesse corresponder não somente ao que ela espera, mas ao que deveria acontecer exatamente no caso dela.
Ela é muito atenta ao exterior das coisas, a luz, a cidade em cujo barulho o quarto está imerso.
Ela treme.
Ele olha inicialmente para ela como se esperasse que ela falasse, mas ela não fala.
Então ele não se move mais, não tira a roupa dela, diz que a ama como um louco, diz isso baixinho.
Depois ela se cala.
Ela não responde.
Poderia responder que não o ama.
Nada diz.
De repente ela sabe, ali, naquela hora, sabe que ele não a conhece, que jamais a conhecerá, que não tem como conhecer tanta perversidade.
Nem como dar mil e uma voltas para prendê-la, ele jamais conseguirá.
Ela é quem tem de saber.
Ela sabe.
A partir da ignorância dele, ela de repente sabe: ele já a agradava na barca.
Ele a agrada, a coisa só dependia dela.
Ela lhe diz: eu preferia que não me amasse.
Mesmo se me ama, eu queria que fizesse o que costuma fazer com as mulheres.
Ele a olha como que apavorado, ele pergunta: é o que você quer?
Ela diz que sim.
Ele começou a sofrer ali, naquele quarto, pela primeira vez, ele não mente quanto a isso.
Ele diz que já sabe que ela nunca o amará.
Ela deixa que ele diga.
Ele diz que está só, atrozmente só com aquele amor que sente por ela.
Ela diz que ela também está só.
Ela não diz com o quê.
Ele diz: você me seguiu até aqui como teria seguido qualquer um.
Ela responde que não pode saber, que jamais havia seguido alguém até um quarto.
Ela diz que não quer que ele fale, o que quer é que ele faça como costuma fazer com as mulheres que leva para seu apartamento.
Ela suplica que ele faça daquele jeito.
Ele arrancou o vestido, joga-o longe, arrancou a calcinha de algodão branco e leva-a assim nua até a cama.
E então ele se vira para o outro lado da cama e chora.
E ela, lenta, paciente, o traz de volta para ela e começa a tirar-lhe a roupa.
De olhos fechados ela faz isso.
Lentamente.
Ele quer fazer gestos para ajudá-la.
Ela pede que ele não se mexa.
Deixe-me.
Ela diz que quer fazer ela mesma.
Ela o faz.
Ela tira as roupas dele.
Quando ela pede, ele muda o corpo de posição na cama, mas quase sem sair do lugar, com leveza, como se para não a acordar.
A pele é de uma maciez suntuosa.
O corpo.
O corpo é magro, sem força, sem músculos, ele poderia ter estado doente, estar em convalescença, ele é imberbe, sem qualquer outra virilidade além da do sexo, ele é muito fraco, parece estar á mercê de um insulto, sofrendo.
Ela não o olha no rosto.
Ela não o olha.
Ela o toca.
Ela toca a maciez do sexo, da pele, ela acaricia a cor dourada, a desconhecida novidade.
Ele geme, ele chora.
Ele está num amor abominável.
E chorando ele o faz.
No começo há a dor.
E então essa dor é por sua vez tomada, é modificado, lentamente arrancada, levada para a sensação do prazer, abraçada a ela.
O mar, sem forma, simplesmente incomparável...
- Um amor na Ásia (de “O amante”) ~Marguerite Duras ~1914-1996
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...
é isso moça bonita...
neste mar de fome
simplesmente inexorável
afogado na tua espera
Antonio carlos
9mbro
2010
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