quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Angel



paula fernandes




Oi Carlos

Há tanto tempo longe
e eu já tinha me esquecido
de como é gostoso
este come e dorme preguiçoso
nos dias frios das cidades do sul de Minas.

Cana Verde fica numa montanha
entre Lavras, Perdões e Campo Belo.

No meio das montanhas
a cidade é uma ilha.

A casa continua
com o cheiro de comida feita
pela vovó Cemica
no fogão de lenha,
embora hoje isso já seja
quase uma lenda.

Arroz, feijão, bife e tomate.
Um prato de torresmo
em cima da mesa
e um copinho de cachaça
esperavam para abrir o apetite.

A casa grande,
as portas grandes,
as janelas grandes.

Lembranças de uma menina ainda miúda.
O tic tac do relógio antigo na parede
conta os segundos.
Tic. Tac.
No quintal um pé de café
que plantei há muito anos.
Duas mangueiras,
uma videira,
uma figueira,
um limoeiro,
um pé de laranja,
alguns de milho.
Muitas flores.
O pinheiro
que costumávamos enfeitar nos natais
com estrelas, bolas e luas
que fazíamos de papelão
não mais existe.

As galinhas, os patos, os marrecos,
os ganços, os porcos e os gatos,
assim como as roseiras
e os pés de pocã também não.

Tudo sustenta o peso
das implacáveis mãos do tempo.

Na parede permanecem vivos os bisas.
Vô Lindolfo e Vó Felícia.
Vô Francisco Anastásio e sua Maria Mulata.
No centro Vó Miracema, Dona Cemica, e Vô Necésio.
Minhas raízes portuguesas
que vieram fincar raízes
aqui nesta terrinha.

Há três, quatro gerações
e eu estaria além mar.

Da varanda posso ver
o sol se pôr atrás das montanhas de Minas
e se refletir nas águas da represa de Furnas.

Quando pequena este espetáculo
costumava me fascinar
por horas antes, durante e depois.

Neste fim de semana
me pareceu diferente.

Lembrei-me então
das palavras de um amigo ( sabes quem)
que diz que muitas coisas
não crescem com a gente.

Coloquei-me de joelhos e, daqui,
vi as coisas como há vinte anos,
com os olhos de uma criança,
como sempre foram.

Este é o presente que o universo
deu para minha vó todos os dias,
durante quase cem anos...
Ê Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais....



Juliana C.Martins.

é isso moça bonita


fevereiro 2011
antoniOCarlos

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