quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Jeito de Mato




Paula Fernandes



Ainda te levarei




Ainda te levarei 
Amor 
Para comer nozes frescas 
Na montanha 
E pendurar cerejas nas orelhas 
Como se fossem flores 
Ou rubis. 

As nozes 
Meu amor 
Mancham os dedos 
E são verdes e exatas 
Como ovos 

Mas as cerejas 
Ah! As cerejas 
São quando a cerejeira sua 
Seu manso sangue. 

Ainda te levarei àquela casa 
onde floriam lilases 
e serpentes tão claras quanto a água 
deslizavam ao pé das macieiras. 

Te mostrarei três lagos 
no horizonte 
três queijos maturando 
numa adega 
três lesmas 
escondidas sob um vaso. 

Estará tudo lá 
à nossa espera 
morangueiras quebradas 
lagartixas. 
Só não estará meu medo 
de menina 
aquele mais escuro que os ciprestes 
ecos no mato passos sobre a ponte 
garras na saia vento nos cabelos 
e o latejar das veias repetindo 

...estou sozinha 
e ninguém me salva

Marina Colasanti 
(Asmara, Etiópia, 26 de setembro de 1937)






e é isso moça bonita


aNTONIocARLos
2011

Um comentário:

  1. Que lindas palavras! Coisas tão simples e tão significativas, diferentes... pequenos espetáculos...

    Abraço no coração!

    ResponderExcluir