domingo, 28 de fevereiro de 2010

Cometa bobagens.





Cometa bobagens!

Não pense demais
porque o pensamento
já mudou
assim que se pensou.

O que acontece
normalmente,
encaixado,
sem arestas,
não é lembrado.

Ninguém lembra
do que foi normal.

Lembramos do porre,
do fora, do desaforo,
dos enganos,
das cenas patéticas
em que nos declaramos
em público.

Cometa bobagens.

Dispute uma corrida
com o silêncio.

Não há anjo a salvar
os ouvidos,
não há semideus
a cerrar a boca
para que
o seu futuro do passado
não seja ressentimento.

Demita o guarda-chuva,
desafie a timidez,
converse mais
do que o permitido,
coma melancia
e vá tomar banho no rio.

Mexa as chaves no bolso
para despertar uma porta.

Cometa bobagens.

Não compre o manual
para criar os filhos,
para prender o gozo,
para despistar os fantasmas.

Não existe manual que ensine
a cometer bobagens.

Não seja séria;
a seriedade é duvidosa;
seja alegre;
a alegria é interrogativa.

Quem ri não devolve
o ar que respira.

Não atravesse o corpo
na faixa de segurança.

Grite para o vizinho
que você não suporta mais
não ser incomodada.

Use roupas com alguma lembrança.

Use a memória das roupas
mais do que
as próprias roupas.

Desista da agenda,
dos papéis amarelos,
de qualquer informação
que não seja
um bilhete de trem.

Procure falar
o que não vem à cabeça,
cantarolar uma música sem letra.

Deixe varrerem seus pés,
case sem namorar,
namore sem casar.

Seja imprudente porque,
quando se anda em linha reta,
não há histórias para contar.

Leve uma árvore para passear.

Chore nos filmes babacas,
durma nos filmes sérios.

Não espere as segundas intenções
para chegar às primeiras.

Não diga “eu sei, eu sei”,
quando nem ouviu direito.

Almoce sozinha
para sentir saudades
do que não foi servido
em sua vida.

Ligue sem motivo para o amigo,
leia o livro sem procurar coerência,
ame sem pedir contrato,
esqueça de ser
o que os outros esperam
para ser os outros
em você.

Transforme o sapato
em um barco,
ponha-o na água
com a sua foto dentro.

Não arrume a casa na segunda-feira.

Não sofra com o fim do domingo.

Alterne a respiração com um beijo.

Volte tarde.

Dispense o casaco
para se gripar.

Solte o palavrão
para valorizar
depois cada palavra de afeto.

Complique o que é muito simples.

Conte uma piada sem rir antes.

Não chore para chantagear.

Cometa bobagens.

Ninguém lembra do que foi normal.

Que as suas lembranças
não sejam
o que ficou por dizer.

É preferível
a coragem da mentira
à covardia da verdade.”



IMPREVISÍVEL ~ (Carpinejar)

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DES....ABA.....FO


Pobre alma essa minha
que anda tão triste por aí,
com tantas coisas
para resolver!

Tem horas
que todas elas
parecem inconclusivas!

Tem horas
que dá vontade
de não fazer nada
com tudo isso!

Tem horas
que dá vontade de sumir
passar pelo portal do Arrivederci
e fui!

Estava precisando
muito de palavras bonitas
para tirarem de minha cabeça
essa nuvem negra
que me atormenta!

Minha vida
está tão cheia
de incógnitas
que tem dias
que não sinto vontade
de fazer nada!

Melhor seria hibernar
e deixar que elas
se encaminhassem
ao sabor da sorte!

Sinto-me impotente
muitas vezes
para tomar as decisões
mais acertadas!

Parece-me que hoje
estou num dia assim!

Ao mesmo tempo,
tudo dependendo de mim....
e eu exausto por levar tantas
responsabilidades nas costas!

Sempre fui forte,
tive de ser!

Sempre cobraram
isso de mim,
esperaram isso de mim!!

Agora, quero colo!
Tens para me oferecer?

Existem certos momentos
onde parece
que tudo se desarrumou de vez...
ou quem sabe
foi a coragem
de enxergar a bagunça
que finalmente chegou?

Faz frio, mas esse frio é interno
porque ainda é verão
e falta muito pro inverno!

Ainda trago o luto
mal chorado,
mal gritado ,
mal chingado do meu pai!

Tive que resolver tudo,
mais uma vez!

Outras muitas situações
que implicam
em decisões frias
que não tenho competência
para tomar agora
invadem todas as minhas manhãs!

Por isso, mesmo
com o sol lá fora,
sinto muito, muito frio!

Por estar assim,
muitas vêzes
desabo sem motivo .

Na realidade,
o motivo é outro!

É o frio do meu inverno,
é a sede de viver,
é a raiva contida,
é o grito que não sai
ou é você que não me entende!

e é isso
não é moça bonita?

pensando bem
você não tem
motivos
prá não ser feliz...
nénão?
pergunte pro seu coração...
pergunte!

e depois vem comigo
vamos cometer bobagens
afinal há tantos erros novos
esperando para serem cometidos...
.
Antonio Carlos
prólogo de março
2o1o


Frase do dia : Algumas pessoas conseguem permanecer mais tempo em uma hora do que outras em uma semana...
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Música : Woman - John Lennon
e mais um mimo para vc...

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sábado, 27 de fevereiro de 2010

Vivo uma paixão...





"Vivo uma paixão platônica por uma mulher casada"


O publicitário carioca Fred, 41 anos, é um homem romântico e intensamente apaixonado por Luísa, uma mulher casada e fiel ao marido.
Para complicar ainda mais, os dois trabalham juntos - e Fred é o chefe dela.
A paixão platônica já dura quase três anos.
Ele chegou a se declarar, mas nada aconteceu.
Mandou rosas vermelhas, mensalmente, durante um ano, e ela resistiu.
Aqui, Fred fala das dores e delícias de viver uma grande paixão, mesmo sem ser correspondido...

"Casada, feliz e fiel.
Ainda que para alguns pareça improvável, essa mulher existe.
Venera o filho, adora o marido, cultua a família.
Ela se chama Luísa, tem 31 anos e uma beleza discreta: é morena-clara, tem os cabelos compridos cacheados e o tipo mignon.
Pensando que eu pudesse entrar em sua vida, me apaixonei por ela.
Já faz quase três anos.
Cheguei a me declarar, ela não me deu esperanças, mas continuo sob o impacto dessa paixão.
Luísa causa em mim uma perplexidade de criança, às vezes sagrada, às vezes profana.
Ao vê-la, me sinto diante da própria Eva, linda, divina e proibida.
Mas eu não sou Adão e sim o chefe dela, felizmente com mais pudor do que poder -no meu lugar, um cretino poderia assediá-la covardemente.
...
Há quatro anos, trabalhamos juntos em uma agência de publicidade.
Eu sou diretor da área de criação e Luísa uma das redatoras da minha equipe.
Já nos conhecíamos há um ano, quando ela invadiu meu sossego como uma aparição.
...
Era sábado. Agosto de 2000.
Era Copacabana.
Estávamos no apartamento de uma amiga da agência, que ia tentar a sorte em uma empresa rival e reuniu os colegas para um bota-fora.
No dia-a-dia, Luísa anda produzida, com um pouco de maquiagem.
Na festa, apareceu de cara lavada, cabelos presos, usando um vestido florido, simples.
Levou o filho de 5 anos, me passou um ar maternal.
Não sei explicar o que senti.
Quando a vi sem a moldura do ambiente de trabalho, implodi de paixão.
Dali em diante, Luísa seria para sempre.
...
No dia seguinte, eu já não a via como uma colega de trabalho como as outras.
Mas comecei a me policiar, achando que era empolgação.
Em qualquer lugar do mundo, é uma situação delicada o chefe se apaixonar pela funcionária.
Além disso, eu também era casado há oito anos, pai de um menino de 7, embora a relação com minha mulher estivesse em crise, justamente porque eu sentia falta de paixão.
Meu casamento seguiu normalmente, mas eu pensava em Luísa de manhã, de tarde e de noite.
Meses se passaram e a paixão não diminuiu, ao contrário.
Talvez por eu não ter desabafado com ninguém, só aumentou.
...
No trabalho, eu 'namorava' Luísa de longe, e extravasava minha paixão vendo filmes românticos, ouvindo música.
Quando você se apaixona, passa a perceber as letras de um jeito diferente.
De repente, ouvir Djavan cantando 'Sabe lá, o que é morrer de sede em frente ao mar?' fazia mais sentido do que nunca.
Ou a música com o nome dela [Luiza, de Tom Jobim]: 'Escuta agora a canção que eu fiz pra te esquecer, Luiza, eu sou apenas um pobre amador, apaixonado, um aprendiz do teu amor'.
Guardei essa paixão em segredo durante um ano.
...
Só quando agosto voltou, em 2001, pensei:
' Tenho de desabafar com alguém'.
Fui tomar um chope com um amigo do trabalho e contei tudo.
Ele ficou de olhos arregalados e queixo caído.
Começamos a discutir a idéia de eu dividir meu sentimento com Luísa.
Foram vários chopes durante vários dias.
Meu amigo é um sujeito discreto, não opinou muito, apenas me alertou para o risco profissional que eu corria, caso ela interpretasse a declaração como assédio.
...
Mas eu quis correr o risco.
De vez em quando eu almoçava com Luísa e com clientes da agência.
No dia em que completou um ano que eu tinha me apaixonado, inventei um almoço com um cliente que não existia, para provocar um encontro a sós com ela.
Escolhi um restaurante onde nunca havia estado com outra mulher e quase desisti.
Luísa, com seu charme, parecia resumir todas as mulheres com quem já sonhei:
Ava Gardner e sua sexualidade selvagem, Catherine Deneuve e sua classe inatingível, Andie MacDowell e sua ternura irradiante, Emmanuelle Béart e sua ingenuidade maliciosa...
...
Eu pensava que nenhuma mulher pudesse sintetizar tantas beldades.
Luísa pode.
Ela, ali, candidamente desavisada, me intimidava.
Quando percebeu que não viria cliente algum almoçar com a gente, eu disse que precisava fazer uma revelação.
Notei que ela ficou assustada, achando que seria demitida.
"Me apaixonei por você, Luísa", desabafei, aliviado.
Ela ficou muda, paralisada.
Depois baixou a cabeça.
Segui em frente:
-'Isso não é uma cantada, não é assédio'.
Luísa continuou estática, e eu, didático:
-Aconteceu há um ano.
Para você não pensar que é só entusiasmo, deixei que essa paixão tomasse conta dos meus desejos e pensamentos, até que pudesse dominá-la.
Hoje garanto que está sob controle.
...
Não vou enlouquecer.
Não vou enlouquecer você.
Não vou me magoar.
Não vou magoar você.
Não vou me desrespeitar.
Não vou desrespeitar você.
Só vou amar você, mesmo que você não me ame'.
...
Depois de me ouvir em silêncio, ela disse:
-'Infelizmente, não tenho como estimular esse sentimento. Estou muito bem casada e, além disso, gosto muito do meu trabalho'.
...
Eu não tinha expectativa de que sua reação fosse diferente, só queria que ela soubesse o que eu sentia.
Queria que ela entendesse que a paixão não escolhe hora, local, pessoa.
Tive de lembrá-la de que todos corremos o risco do amor repentino, e eu era apenas uma vítima dessas surpresas que o coração apronta.
Para assegurar que tinha consciência dos meus riscos, citei uma frase do escritor espanhol Antonio Gala:
-'Amar é como pegar uma arma e declarar: Tome. Só você pode me machucar'.
...
Eu estava dando a Luísa a chance de destruir minha carreira, mas não minha vida.
Desarmado, tentei fazê-la entender que eu sobreviveria, mesmo a tendo perdido para seu marido seis ou sete anos antes.
Ela questionou se alguém mais sabia o que eu sentia e como eu evitaria que os outros soubessem.
Argumentei que tinha passado um ano calado e nem ela havia notado.
Passei duas horas tentando convencê-la de que nossa relação pessoal e profissional mudaria na essência, mas não na forma, pelo menos de minha parte.
Deixei claro que ela não sofreria nenhum tipo de assédio.
Ela, sim, teria o poder de me denunciar e acabar comigo.
Ainda em órbita, ela disse que eu poderia ficar tranqüilo quanto a isso, e se assustou ao ver que, àquela altura, o restaurante era só nosso.
...
Voltamos à agência e, daquela tarde em diante, nunca mais fomos os mesmos - graças a Deus.
Eu e Luísa passamos a ter uma relação de cumplicidade, que a mim diverte e a ela embaraça.
Três dias depois, mandei a ela um buquê de rosas vermelhas, agradecendo sua atitude compreensiva.
Ela me mandou um e-mail dizendo 'obrigada', e deixou as flores na mesa dela.
Passei a presenteá-la com livros e CDs românticos e a mandar rosas vermelhas todos os meses, sempre no mesmo dia -aquele em que me apaixonei.
No terceiro buquê, ela disse: 'Vem cá, vai ser sempre assim?'.
Respondi que sim.
Ela me pediu para parar com os presentes porque não se sentia confortável.
Continuei apenas com as flores, por um ano, até sentir que havia fechado um ciclo, que começou no dia em que me declarei.
Não sei o que os colegas comentavam sobre as flores nem que tipo de desculpas ela dava, só sei que as pessoas ficavam intrigadas.
...
Luísa nunca levou as rosas para casa.
Também não me telefonava nem passava pela minha mesa para agradecer.
Às vezes eu mandava e-mails com frases ou trechos de música que lembravam meu dilema emocional.
Ela nunca respondeu.
Durante esse tempo, teve apenas um gesto carinhoso: me deu uma foto nossa, tirada naquela festa em Copacabana.
Fiquei alegre, mas foi uma espécie de prêmio de consolação, como se ela disesse:
-'Você não pode me ter, mas tem a foto do dia em que se apaixonou por mim'.
...
Eu sabia que, para ela, eu era como um daqueles andróides de 'Blade Runner', querendo o impossível: ser humano.
Nesse filme, os andróides sofrem por viver divididos entre a razão programada dos robôs e a emoção conturbada dos humanos.
Como eles, preferi deixar a razão de lado e me entregar à paixão, me expondo a todos os riscos.
Os e-mails românticos que eu mandava para Luísa, por exemplo, poderiam ser usados contra mim.
Cheguei a dizer brincando que, caso ela me denunciasse por assédio, eu teria o maior prazer em confirmar o que sentia diante de um juiz.
...
No meio disso tudo, oito meses depois daquele almoço com Luísa, eu me separei.
Não foi por causa dela.
Meu casamento tinha perdido a alegria.
Resolvi terminar antes que a gente começasse a se desrespeitar.
Não contei à minha mulher que havia me apaixonado por outra.
Já basta a separação ser sofrida, não precisa ser trágica.
...
Acredito que Luísa tenha se assustado com minha separação, mas não falamos no assunto.
São poucos os momentos em que ficamos a sós e não forço nenhuma situação.
Eu filtro meu acesso a ela, porque é difícil controlar o que sinto.
Quando ela vem falar comigo, ou vou à mesa dela, meu corpo estremece, meu coração dispara.
Tenho ciúmes de colegas que conseguem conversar com ela naturalmente.
Mas nossa relação profissional, como prometi, não mudou.
Já surgiram problemas no trabalho e ela levou bronca, como todo mundo.
Ela nunca usou meu sentimento para obter nenhuma vantagem, o que me deixa ainda mais encantado.
Nas poucas vezes em que falamos sobre nós, ela me disse que não havia contado nada ao marido.
De vez em quando, me pergunta se estou bem, se conheci alguém.
Eu sempre digo que, se aparecer outra mulher, não será uma substituta para ela.
...
Depois que me separei, saí com algumas garotas, mas meu entusiasmo por elas não passou de um fim de semana.
Não levo uma vida monástica nem estou fechado para um novo amor: saio com amigos, freqüento bares, viajo bastante.
Quando uma mulher me chama a atenção, paquero, mas ainda não apareceu nenhuma que aplacasse o charme de Luísa e me tirasse desse labirinto.
É a primeira vez que vivo uma paixão platônica.
Aos 25 anos, me apaixonei por uma garota que tinha namorado, mas, logo que me declarei, ela preferiu ficar comigo.
Com Luísa, seria ingenuidade alimentar esse tipo de expectativa.
As pessoas comentam que ela tem um casamento ótimo.
Não conheço o marido dela nem tenho curiosidade de conhecer.
A história deles não tem a ver comigo.
...
Para não dizer que não tenho esperança, me sinto como alguém em um avião, sabendo que ele está prestes a cair.
Sei que pode vir uma tragédia, mas, até o último minuto, acredito que vai acontecer um milagre e vou me salvar.
Tento não me enganar, mas às vezes, quando vou a um lugar romântico, fantasio Luísa, ali, comigo.
Já imaginei nossos caminhos se descruzando, ela se separando do marido e a gente se reencontrando no futuro.
Já passou pela minha cabeça perguntar a ela se eu teria chance, caso ela não fosse casada.
Mas preferi não mexer nesse assunto, porque a resposta, negativa ou positiva, seria dolorosa.
Se ela respondesse que não, eu ficaria chateado, claro.
Se ela dissesse que sim, aumentaria o tamanho da minha perda.
Eu sofreria ainda mais, sabendo que ela é capaz de me amar, mas não ama.
Nesses quase três anos não fiquei deprimido, só um pouco melancólico.
Dói não ser correspondido, mas essa dor não foge ao meu controle.
...
Nunca tomei um porre nem fiquei ligando para ela em horas inconvenientes.
Conheço homens que viveram situações parecidas, mas tiveram desequilíbrios que eu não quero ter.
Um deles chegou a pedir demissão do emprego, outro mudou de cidade.
Eu não faria isso porque, antes de tudo, tenho amor próprio.
Posso me apaixonar sem sair por aí quebrando uma loja de cristais.
Não vou destruir minha imagem nem minha carreira.
...
Quem ama não precisa dar vexame.
Muita gente tem medo de se apaixonar, porque acha que vai perder o controle.
Depois que se entrega, vê como é bom.
Toda paixão vale a pena, porque traz algum aprendizado.
No meu caso, sinto uma espécie de purificação dos sentimentos.
Eu me sinto mais compreensivo, mais calmo, menos centrado, menos desconfiado, menos malicioso.
Sem querer, Luísa me fez um favor: me tornou mais generoso.
Talvez porque qualquer pequeno gesto dela -um sorriso, uma palavra- me conforta.
E, para se contentar com pouco, você tem de aprender a dar, sem esperar nada em troca.
...
Também percebi que encarar o amor como um sentimento permanente e a paixão como temporária é banalizar as coisas.
Aprendi num raio que, na paixão, a doação é total, a dedicação é absoluta.
Entra-se na relação com tudo, disposto a sair sem nada: é um milhão ou zero.
No amor, busca-se a troca, o equilíbrio.
Você entra com algo e espera sair com algo, é uma afetividade com empate.
Hoje minha paixão está calma, mas continua intacta.
...
Há pouco tempo tirei um mês de férias, senti saudades de Luísa e tive de ter disciplina para não ligar para ela.
Quando a vi de novo, meu corpo tremeu, como naquela noite em Copacabana.
Não dividi esse sentimento com mais ninguém, além daquele amigo com quem desabafei antes de me declarar.
Ele acha, como eu, que minha chance de conquistar Luísa, se é que existe, é mínima.
Não sei o que a vida me reserva, mas, por enquanto, não pretendo lutar contra esse sentimento.
...
A paixão é uma fatalidade.
Pode acontecer com qualquer pessoa, a qualquer momento.
Eu apenas tento conviver com essa fatalidade da melhor maneira possível.
Quis dar esse depoimento para, mais uma vez, expressar meu amor por ela.
E para dizer ao mundo que é possível viver uma grande paixão com serenidade, sem transformar a vida num caos.
Se eu pudesse voltar no tempo, sentiria de novo tudo o que senti desde que a conheci.
Essa experiência ficou marcada na minha alma, como uma cicatriz que não quero apagar.
Talvez tenha sido uma preparação para uma paixão ainda maior.
Claro que seria o paraíso se eu pudesse ter Luísa nos meus braços.
Na pior das hipóteses, se isso não acontecer, vou levar para a velhice uma bela história para contar.
Quem acha que isso é pouco jamais sentiu algo parecido."




Revista Marie Claire - Depoimento a Rosane Queiroz
*Os nomes foram trocados para preservar o entrevistado.~

~~~~~~~~~~~~
e no entanto
é isso moça bonita
Jogo de xadrez dificil este do amor proíbido
Saber que a partir do momento em que jogamos a primeira pedra revelamos nossa intenção de jogo para a outra parte, que no íntimo esperamos que jogue conosco

Este é o caso em que a outra parte poderia simplesmente ter virado o tabuleiro e acabado com o jogo!
Mas não fez isso.
Optou pela tortura de deixar o jogo no primeiro lance, dando esperança que um dia pudesse ser continuado.

As perguntas que ficam são :
Não teria sido melhor se ele nunca tivesse começado o jogo?
Que ele tivesse mantido guardado a 7 chaves o desejo de jogar?
Que ele tivesse guardado só pra si e insistido em voar sozinho neste amor platônico?
Talvez o resultado fosse semelhante, mas ele não teria se transformado em escravo da esperança de jogar um jogo que o outro jamais irá jogar.
Mas se não revelamos nosso amor, mesmo que sendo impossível ou proíbido, como saber se este seria possível ou não?
Difícil isso não é?
O que fazer, se a terra prometida fica sempre do outro lado do deserto?
Como fazer quando percebemos que começamos insanamente a desejar alguém comprometido?
O que fazer com o Medo de exibir nossos desejos e ver nossas asas abruptamente cortadas pela falta de quem tenha as mesmas carências e queira assumir os riscos e entenda nosso desejo de voar? (ou de jogar?)
Fechamos as cortinas, baixa mais uma vez, o silêncio Atroz!
Como o próprio autor diz: Quem ama não precisa dar vexame.
E você? O que faria? Se revelaria? Ou deixaria as coisas latejando pra sempre dentro de você?
Me diz?

cARLos
fevereirO
2o1o


Frase do dia : Um segredo guardado é teu escravo, se contado torna-se teu senhor

Música : Somente por amor - Marcus Viana

Ontem


Curling

Emocionante!
E as franco-saxônicas canadenses, literalmente entregaram o OURO para as Walquírias Nórdicas...
Gostei!
Anette Norberg hummmm!
Uma autêntica beleza eslava...se realmente houvesse este negócio de pureza de raça, é bem provável que ela seria a síntese!
Sei lá...
Mas a moça parece mais uma daquelas deusas douradas de pele impecável que habitam o imaginário Valhala...
rsrs
é isso

E porque hoje é sábado




Uma música para fazer você
voar entre os vales da alma
e pelos abismos do coração

é isso!

Música : Angelina com o australiano Tommy Emmanuel

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Se fossemos




Se fôssemos pássaros

Voaríamos acima
das densas nuvens
do sofrimento
e da dor

Subiríamos muito além
da dúvida

Tão alto
que o espírito
viveria solto
como pluma errante

Que bom seria,
voar, voar...

Chegar nas alturas,
encontrar a luz e renascer

Se eu tivesse asas
seria amigo do vento,
dos seres invisíveis,
aqueles que se alimentam
da esperança
e da compaixão

Flutuaria muito acima
das emoções

Meus pulmões seriam
como nuvens
e meu coração
um arco íris

Se fôssemos
como os pássaros

O céu perderia
o mistério

Os anjos
não andariam
escondidos

Os desejos
não fugiriam da alma,
viveríamos em suspiros,
dando brilho ao olhar

O que nos impede
de sermos alados?

Se o vôo pode acontecer
na inspiração profunda
do encontro
com as rosas?

Numa nota musical,
no poema,
no ardor dos amantes?

Onde anda o pensamento?

Ele pensa que voa,
entretanto
ele corre,
ele foge

Onde anda o pensamento?

Ele pensa que voa
mas ele escurece a alma

Onde anda a alma?

Ela espera seu mestre,
O coração

Lá no profundo
de meu peito

E no alto
dos meus sonhos
sinto o quanto...

Te adoro
Te quero

Não poderia
mais viver
sem teu carinho
que é
todo azul
todo conforto
todo macio

Estar com você
é como afundar
num oceano
de maravilhas

Que todo o azul
deste mundo
te encontre agora
e te faça
mais e mais
feliz

E que você
pensando em mim
me deseje tanto
quanto eu te desejo

...e que o suspiro
que acabaste de dar

te preencha
com a substancia
do meu amor
por você

Beijos
Beijos
Beijos
e

Beijos



e é isso
não é?

Neste fevereiro
de espera
Primavera?
Quem me dera
2010


antoniocarlos


Frase do dia : Se você pensa que pode ou se você pensa que não pode, de qualquer forma, você tem toda a razão!


Música: Pink Floyd - The Great Gig In The Sky

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Clarisse





Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo,
já perdi um AMOR por escondê-lo.

Já segurei nas mãos de alguém por medo,
já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.

Já expulsei pessoas que amava de minha vida,
já me arrependi por isso.

Já passei noites chorando até pegar no sono,
já fui dormir tão feliz,
ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.

Já acreditei em amores perfeitos,
já descobri que eles não existem.

Já amei pessoas que me decepcionaram,
já decepcionei pessoas que me amaram.

Já passei horas na frente do espelho
tentando descobrir quem sou
já tive tanta certeza de mim,
ao ponto de querer sumir.

Já menti e me arrependi depois,
já falei a verdade e também me arrependi.

Já fingi não dar importância às pessoas que amava,
para mais tarde chorar quieta em meu canto.

Já sorri chorando lágrimas de tristeza,
já chorei de tanto rir.

Já acreditei em pessoas que não valiam a pena,
já deixei de acreditar nas que realmente valiam.

Já tive crises de riso quando não podia.

Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.

Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.

Já gritei quando deveria calar,
já calei quando deveria gritar.

Muitas vezes deixei de falar o que penso
para agradar uns,
outras vezes falei o que não pensava
para magoar outros.

Já fingi ser o que não sou para agradar uns,
já fingi ser o que não sou para desagradar outros.

Já contei piadas e mais piadas sem graça,
apenas para ver um amigo feliz.

Já inventei histórias com final feliz
para dar esperança a quem precisava.

Já sonhei demais,
ao ponto de confundir com a realidade.

Já tive medo do escuro,
hoje no escuro me acho, me agacho, fico ali.

Já cai inúmeras vezes
achando que não iria me reerguer,

já me reergui inúmeras vezes
achando que não cairia mais.

Já liguei para quem não queria
apenas para não ligar
para quem realmente queria.

Já corri atrás de um carro,
por ele levar embora, quem eu amava.

Já chamei pela mamãe no meio da noite
fugindo de um pesadelo.
Mas ela não apareceu
e foi um pesadelo maior ainda.

Já chamei pessoas próximas de amigo
e descobri que não eram.
Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada
e sempre foram e serão especiais para mim.

Não me dêem fórmulas certas,
porque eu não espero acertar sempre.

Não me mostre o que esperam de mim,
porque vou seguir meu coração!

Não me façam ser o que não sou,
não me convidem a ser igual,
porque sinceramente sou diferente!

Não sei amar pela metade,
não sei viver de mentiras,
não sei voar com os pés no chão.

Sou sempre eu mesma,
mas com certeza
não serei a mesma pra SEMPRE!

Gosto dos venenos mais lentos,
das bebidas mais amargas,
das drogas mais poderosas,
das idéias mais insanas,
dos pensamentos mais complexos,
dos sentimentos mais fortes.

Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.

Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

Clarisse Lispector in Eu adoro Voar


E então é isso moça bonita
como disse Vinicius,
eu sem você
não tenho porque
sou chama sem luz
jardim sem luar
sem você meu amor
eu não sou ninguém

neste final de fevereiro
com vontade de ver
renascer minha vida
2010
antoniOCarlos


Frase do dia: Não dá para culpar a janela pela existência da paisagem

Música : Samba em Prelúdio de Vinicius de Moraes - Cantam : Toquinho 1ªparte; Maria Creuza 2ª parte; Vinicius 3ªparte - Gravado ao vivo em Buenos Aires

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Viagem





VIAGEM


Parti

Num comboio
chamado desejo
da estação
vulgaridade
no dia
tantos de tal.

Gastei
da vida real
para comprar
o bilhete
e o sonho
(paguei-lhe o frete)
tratou-me
do passaporte.

Desde que parti
que me vejo
à janela
da imaginação
do comboio
que me leva
à morte
acenando
de lenço
na mão
com saudade
a cada pessoa vulgar
que vejo ficar
na estação banalidade
de onde
um dia parti.

E se acaso
desci
num apeadeiro
qualquer
para beber
uma esperança
de esquecer a partida
(bebi apoiada
ao balcão,
mesmo de pé)
paguei sempre
a bebida
com uma
desilusão
e um cansaço
mortal
daquela gente
banal
que enchia o café.

E cada vez
que mudava
a paisagem lá fora

(o despertar da aurora
ou estrelas a nascer)

eu esquecia-me
e olhava
cada cara
que passava
com dó
até que me acordava
essa sede
de beber
uma esperança,
uma bebida,
de um dia
ficar esquecida
num apeadeiro
qualquer
em que
o comboio parou.

E vinha outra vez
a partida
daquela mediocridade
de onde
um dia parti
só.

É sempre assim
que me vejo
num comboio
chamado desejo
acenando
com saudade
a cada pessoa vulgar
que vejo ficar
do lado de lá
da vidraça,
olhando
de má vontade
o comboio
que passa ...


MARIA DO CARMO ABECASSIS in «EM VEZ DE ASAS TENHO BRAÇOS»

então Moça Bonita
do fundo do
meu
coração
quatro letras
quatro facas
e não volte nunca mais
pra mim


antoniOCarlos
2010

Frase do dia : Quando eu te apontar a Lua, por favor, não olhe para o meu dedo...


Música : - Do fundo do meu coração - erasmo carlos & adriana calcanhoto

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Você tem medo...




Você tem medo de se apaixonar...

Medo de sofrer
o que não está acostumada.

Medo de se conhecer
e esquecer outra vez.

Medo de sacrificar a amizade.

Medo de perder
a vontade de trabalhar,
de aguardar que alguma coisa
mude de repente,
de alterar o trajeto
para apressar encontros.

Medo se o telefone toca,
se o telefone não toca.

Medo da curiosidade,
de ouvir o nome dele
em qualquer conversa.

Medo de inventar desculpa
para se ver livre do medo.

Medo de se sentir observada
em excesso,
de descobrir que a nudez
ainda é pouca
perto de um olhar insistente.

Medo de não suportar
ser olhada
com esmero e devoção.

Nem os anjos, nem Deus
aguentam uma reza
por mais de duas horas.

Medo de ser engolida
como se fosse líquido,
de ser beijada
como se fosse líquen,
de ser tragada
como se fosse leve.
(...)
Vocè tem medo de se apaixonar
e não prever o que poderá sumir,
o que poderá desaparecer.

Medo de se roubar para dar a ele,
de ser roubada e pedir de volta.

Medo de que ele seja um canalha,
medo de que seja um poeta,
medo de que seja amoroso,
medo de que seja um pilantra,
incerta do que realmente quer;

talvez todos em um único homem,
todos um pouco por dia.

Medo do imprevisível
que foi planejado.

Medo de que ele morda os lábios
e prove seu sangue.

Você tem medo
de oferecer o lado mais fraco
do corpo.
O corpo mais lado
da fraqueza.

Medo de que ele seja
o homem certo
na hora errada,

a hora certa
para o homem errado.

Medo de se ultrapassar
e se esperar por anos,
até que você antes disso
e você depois disso
possam se coincidir novamente.

Medo de largar o tédio;
afinal você e o tédio, enfim,
se entendiam.

Medo de que ele
inspire a violência da posse,
a violência do egoísmo,
que não queira repartí-lo
com mais ninguém,
nem com o passado dele.

Medo de que não queira
se repartir com mais ninguém,
além dele.

Medo de que ele seja
melhor do que as suas respostas,
pior do que as suas dúvidas.

Medo de que ele não seja vulgar
para escorraçar,
mas deliciosamente rude
para chamar,
que ele se vire
para não dormir,
que ele acorde
ao escutar a sua voz.

Medo de ser sugada
como se fosse pólen,
soprada como se fosse brasa,
recolhida como se fosse paz.

Medo de ser destruída,
aniquilada,
devastada,
e não reclamar
da beleza das ruínas.

Medo de ser antecipada
e ficar sem ter
o que dizer.

Medo de não ser
interessante o suficiente
para prender
a atenção dele.

Medo da independência dele,
de sua algazarra,
de sua facilidade
em fazer amigas.

Medo de que ele
não precise de você.

Medo de ser
uma brincadeira dele
quando fala sério
ou que banque o sério
quando faz uma brincadeira.

Medo do cheiro
dos travesseiros.

Medo do cheiro
das roupas.

Medo do cheiro
nos cabelos.

Medo de não respirar
sem recuar.

Medo de que o medo
de entrar no medo
seja maior do que o medo
de sair do medo.

Medo de não ser
convincente na cama,
persuasiva no silêncio,
carente no fôlego.

Medo de que a alegria
seja apreensão,
de que o contentamento
seja ansiedade.

Medo de não soltar as pernas
das pernas dele.

Medo de soltar as pernas
das pernas dele.

Medo de convidá-lo a entrar,
medo de deixá-lo ir.

Medo da vergonha que vem
junto com a sinceridade.

Medo da perfeição
que não interessa.

Medo de
machucar, ferir, agredir
para não ser
machucada, ferida, agredida.

Medo de estragar
a felicidade
por não merecê-la.

Medo de não mastigar
a felicidade
por respeito.

Medo de passar pela
felicidade
sem reconhecê-la.

Medo do cansaço
de parecer inteligente
quando não há
sobre o que opinar.

Medo de interromper
o que recém iniciou,
de começar o que terminou.

Medo de faltar à aula
e mentir como foram.

Medo do aniversário
sem ele por perto,
do convívio
sem alguém
para se mostrar.

Medo de enlouquecer sozinha...Não há nada mais triste do que enlouquecer
sozinha.

É...
Acho que você tem medo...
De já estar apaixonada.

Medo de Se Apaixonar, do livro "O Amor Esquece de Começar"~ Carpinejar



antoniOCarlos
em fevereiro sem MEDO
de ser feliz...

Frase do dia: Se um homem bate na mesa e grita, está impondo controle. Se a mulher faz o mesmo, está perdendo o controle...

Música : STOLLEN KISS ~Ernesto Cortazar

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Volver








Volver
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Eu sinto no piscar
das luzes distantes
que elas estão marcando
meu retorno
.
São as mesmas
que iluminaram
com seus pálidos reflexos
horas profundas de dor
...
E embora eu não quisesse
regressar,
sempre se volta
ao primeiro amor.

À rua velha onde o eco disse :
Tua é sua vida,
Teu é o seu querer,
debaixo da vista das estrelas
que com indiferença
hoje me vêem voltar

Voltar.
Com a testa marcada,
pelas neves do tempo
que pratearam meus cabelos...

Sentir.
Que a vida é um sopro,
que vinte anos não é nada,
que é febril a visão,
errante nas sombras
que te busca e nomeia...

Viver...
Com a alma algemada
a uma doce recordação
que me faz chorar outra vez...

Tenho medo
do reencontro com o passado
que volta a desafiar
a minha vida.

Tenho medo
das noites povoadas de saudades
que aprisionam
o meu sonhar.

Mas o viajante que foge,
mais cedo ou mais tarde
detém seu caminhar.

E mesmo que o esquecimento
que tudo destrói,
tenha matado minha velha ilusão,
guardo escondida
uma humilde esperança,
que é toda a fortuna
do meu coração


E viajamos em Volver de Almódovar

Eu acho que quando se gosta muito de um filme
se sai em silêncio da sala.

No caminho para casa pouco se fala ou,
na impossibilidade de isso acontecer
fala-se de outras coisas.

Ri-se, bebe-se até uma cervejinha
com a amiga que nos acompanhou ao cinema,
mas guarda-se um silêncio
que é respeito e admiração
pelo que se acaba de ver
e mais do que ver...

SENTIR.

Depois o filme adormece conosco
e acorda e volta a adormecer.

As horas passam e nós não nos esquecemos,
mas também ainda não conseguimos lembrar.

Em breve pensamos na melhor maneira
de transmitir aos outros
o quanto gostamos do filme.

Dizemos «es remotamente imposible».
E sorrimos.

Uma hora damos conosco
a entoar o tema principal do filme pela rua.
Outra hora, ouvimo-la na rádio
e reconhecemo-la aos primeiros acordes.

VIAJAMOS

Esperamos que a música
não acabe nunca
e que consigamos
aprender de cor todo o poema.

Procuramos como doido uma tradução
e certa hora achamos
que já conseguimos escrever
sobre o NOSSO filme.

Começamos.
Nada.

Fica na cabeça a imagem de Penélope Cruz,
que chora cantando e faz
com que todos viajem juntos,
para uma remota região
de nossas carências / coração...

O refrão lindo de morrer
é de chorar e de saber que
em todos os lugares do mundo
há um universo de complexidades
a serem superadas

em qualquer relacionamento...

VOLVER
SENTIR
VIVER...

Mas temos medo

E o ser humano frágil,
lutando com unhas e dentes
diante do destino.

Cair?
Às vezes é acidental
Encarar, lutar e continuar....
e VOLVER
é obrigatório...

E depois de o ouvir cem vezes,
Escrever?
Mais?
Prá que Moça Bonita?
Pena que não estivestes comigo viajando nestas sensações

Antonio Carlos

fevereiro
2010





Música - VOLVER


Yo adivino el parpadeo
de las luces que a lo lejos
van marcando mi retorno...

Son las mismas que alumbraron
con sus palidos reflejos
hondas horas de dolor..

Y aunque no quise el regreso,
siempre se vuelve
al primer amor.

La vieja calle donde el eco dijo
tuya es su vida,
tuyo es su querer,
bajo el burlon
mirar de las estrellas
que con indiferencia
hoy me ven volver
...
Volver...
con la frente marchita,
las nieves del tiempo
platearon mi sien
...
Sentir...
que es un soplo la vida,
que veinte años no es nada,
que febril la mirada,
errante en las sombras,
te busca y te nombra.

Vivir...
con el alma aferrada
a un dulce recuerdo
que lloro otra vez
...
Tengo miedo del encuentro
con el pasado que vuelve
a enfrentarse con mi vida
...
Tengo miedo de las noches
que pobladas de recuerdos
encadenan mi soñar
...
Pero el viajero que huye
tarde o temprano
detiene su andar
...
Y aunque el olvido,
que todo destruye,
haya matado mi vieja ilusion,
guardo escondida
una esperanza humilde
que es toda la fortuna
de mi corazón
...
Musica de Carlos Gardel - Letra de Alfredo Le Pera Compuesto en 1935

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Mulher Polvo & Homem Cobra II





Domingo chuvoso, café na cama.





Domingo chuvoso, café na cama.

Um casal jovem e saudável,
que acorda todos os dias
na maior correria
para ir ao trabalho,
normalmente
guarda um domingo,
ou parte dele,
para que possam
se dedicar um ao outro.

O corpo do cobra
acorda na mesma hora
de sempre.

O corpo ignora
que é domingo,
que ele pode dormir
ate mais tarde,
e já quer movimentar-se.


O cérebro do cobra
acordou também.


Quantas vezes
o cérebro desperta
mas o corpo recusa-se
a levantar,
e quantas vezes
o corpo acordou,
levantou-se,
foi ao banheiro,
tomou café,
e o cérebro so acordou
na mesa do trabalho.

Para o cobra,
é um sacrifício
continuar na cama
se o cérebro e o corpo
já acordaram.

Ele olha a mulher,
relaxada,
com o corpo
querendo acordar
e metade do cérebro
ainda dormindo.

Como ela é linda!

Mesmo de manhã,
ao acordar...


Então passa pela cabeça dele
aquela conversa de solteirões:
vá para a cama
com uma princesa,
mas nunca acorde com ela!

Não é nada agradável
descobrir a crua realidade
do dia seguinte,
depois que o álcool evaporou,
a excitação sexual
encontrou a sua realização
e o desespero do "abate"
já passou...

A realidade é dura para ambos
- principalmente pela manhã,
ao despertar.

É mau hálito,
secreção nos olhos,
barba crescida,
cabelo despenteado...

Nem falo de dentaduras
e de outros que tais.

O bom humor,
o clima sedutor,
a maquiagem,
a elegância,
a roupa de festa
e tudo o mais
se foi com a noite.

A claridade da manhã
mostra as sobras
do que foi maravilhoso
de madrugada.


Mas, afinal,
é o amor dele
que a torna tão linda,
mesmo despertando aos poucos...

Ele pensa:
vai ser muito bom
trazer o café na cama para ela.

Ela vai gostar.

Que ótimo
se ela acordar bem,
contente,
feliz por receber
o café na cama.

Já que está chovendo lá fora,
o melhor tempo
está dentro de casa,
só nós dois.

Quem sabe
se depois rola alguma coisa...

Vai para a cozinha
e prepara uma bandeja
com tudo de que ela gosta:

café, leite, adoçante preferido,
geléia de damasco,
peneirinha
para não deixar
a nata do leite passar,
pães aquecidos,
guardanapo, talheres...

Esfrega as mãos
de satisfação
ao olhar a bandeja pronta.

Imagina que sua obra-prima
ficaria ainda melhor
com aquela florzinha
roubada do arranjo da sala,
que ele coloca
num bonito cálice
com água.

Faz ainda
uma última verificação
e pronto:

perfeito!


Entra no quarto
cantarolando suavemente
um bom-dia, meu amor.

Tem a felicidade
estampada no rosto amante
de quem serve,
numa caprichada bandeja,
o néctar dos deuses
à sua amada.

O coração dela
se enche de ternura.

Com o corpo invadido
de puro amor,
ela se abre num sorriso
de entrega total
e deixa escapar
um suspiro apaixonado.

E ele,
que se delicia
com o que está acontecendo,
deleita-se ainda mais
ao imaginar
o que vai suceder
logo depois...


Com seu olhar de polvo
que vê tudo de uma vez
sem praticamente mover os olhos,
ela repara que falta manteiga
na bandeja.

Despretensiosamente,
solta um suave
"gosto tanto de manteiga",
como se nada estivesse acontecendo.

Mas a frase solta no ar
fere a organização mental
do cobra.

Ele sente um mal­ estar,
logo identificado
como uma pontada de raiva
por ter sido descoberta
uma falha.

O cobra não admite erros,
muito menos os dele.

E vir dela
a descoberta do erro
torna tudo ainda pior.

Ele sente-se como que
acusado pela polvo.

Já um tanto ríspido, reage:
-Manteiga?

-Manteiga!

Ah, sim, a manteiga.

Com seu olhar de cobra,
examina a cena
como se olhasse
através de um tubo de papel.

Vasculha cada centímetro
da bandeja e verifica,
uma coisa de cada vez,
tudo o que há sobre ela.

Só falta traduzir
em palavras o que vê:
leite, café, pão,
geléia, flor
(até flor!),
talheres, guardanapo,
peneirinha...

Ele confere tudo...

E não é que ela está certa?

Falta manteiga!!

-Gosto tanto de manteiga...

Essa maneira de falar
o deixa irritado.


Por que ela não diz logo
o que quer
em vez de ficar
cheia de dedos,
ou melhor,
de tentáculos?

Qualquer cobra
diria direta, frontal
e naturalmente:
-Você me traz a manteiga?

O que o cobra não entende
é que a polvo quis poupá-lo.

Afinal, ele
estava sendo tão gentil,
era tudo tão romântico
que ela não quis
estragar o clima
por causa da falta de manteiga.


O cobra, porém,
reassume o comando da situação
com um decidido
pode deixar, meu bem,
é pá-pum
e a manteiga estará aqui!


E sai rapidinho
atrás da manteiga.

Chega à cozinha,
abre a geladeira e,
com seu olhar em tubo,
vê coisa por coisa:
leite, iogurte,
verduras,
sobras de refeições
bem guardadas
em potes plásticos,
refrigerantes,
ovos ­
mas nem sinal ,
da agora maldita manteiga.

Cobra detesta admitir
que não consegue
resolver problemas.

Isso fere sua onipotência.

Então,
da porta da geladeira,
ele grita, furioso:

-Onde você escondeu a manteiga?

Se estivesse atacada
pela progesterona,
ela responderia na mesma moeda:

-Você nunca acha nada!

Não acha manteiga, cuecas, meias...
Não agüento mais viver assim.

E o tempo fecharia de vez
no coração dela.

Mas, como está
sob o domínio do estrogênio,
quase no cio (ovulação),
ela solta um amável
-Pode deixar, meu amor,
eu pego a manteiga.

Então levanta-se languidamente
e caminha como se estivesse
desfilando numa passarela,
sedutora,
com a camisola esvoaçante
deixando entrever
as peças íntimas.

Na cozinha,
ela abre suavemente
a porta da geladeira.

Então, com seu olhar de polvo,
como se estivesse
enxergando o nada,
estica um dos tentáculos
e pega a manteiga:

-Está aqui, amor!


Como a polvo pode
resolver tamanho problema
com essa incrível facilidade?

O cobra se sente mal.

Fica emburrado
e não quer mais tomar
o café na cama.

A polvo atestou sua incompetência.

Ele sairia de casa para andar,
refrescar a cabeça,
resolver tudo
e só então voltaria.

E assim aquele sonho
de manhã de domingo
se transformaria numa
trágica manhã de domingo.

Mas, por estar
motivado para o amor,
ele deixa de ser cobra
e coloca o incidente
na caixinha
“imprevistos acontecem”.

Senta-se na cama
com a mulher
para saborearem juntos
o café da manhã
- inclusive
o pão com manteiga.


E a polvo estava entrando no cio!



HOMEM COBRA - MULHER POLVO - parte II - IÇAMI TIBA


e é assim
não é?
sempre falta uma manteiga


Antonio Carlos

2010

Frase do dia : O que prevemos raramente ocorre; o que menos esperamos geralmente acontece.


Música : Fundo de Quintal - Lucidez