Duvido dos teus olhos tão meus,
tão perto,
como duvidaria do brilhante
achado no meio das bugigangas.
Desdenho das inquietudes
e dos bateres de asa no peito,
de um certo oco das pernas,
da efervescência dos nervos,
da fragilidade imiscuída na voz.
Melhor que não se apodere de mim
essa festa permanente,
esse tilintar de cristais,
essa promessa de estrela.
Não quero em mim
a instabilidade do vôo,
o medo da corda bamba sem rede,
a vertigem dos abismos latentes.
Duvido dos teus olhos
e eles estão tão perto,
tão perto.
Nego a mim as horas
bordadas de expectativa,
os planos mirabolantes de assédio,
a alienação de tudo quanto lembre
a ordinariedade daquilo que era,
que foi, antes, antes dos teus olhos,
como quem descrê de alturas improváveis
porque em mim
mora a dor da queda desamparada
e o gosto do nada.
Contudo,
moram em mim também agora
teu olhos.
Deito entre uma palavra e outra
e deixo que os sons me cubram,
me fecundem,
me emprenhem.
Quero o verbo a habitar meu ventre,
a crescer em minhas entranhas
para rebentar novo do de dentro,
cheio de meu sangue,
da minha placenta.
Quero me perpetuar em linhas,
me estampar em versos,
me traduzir em signos
porque cada vez que me criptografo,
me decodifico;
cada vez que
me metamorfoseio em metáforas,
mais nítida a minha imagem
no espelho.
Me fiz larva que se descobre crisálida
para saber da vida rastejante
que a povoa e
das suas promessas de asas.
Um cansaço de mil dias
veio deitar sua cabeça em meu peito
e fazer teias em meus cabelos,
veio calçar meus pés
com botas de chumbo
e me contar histórias
que ele não sabe
se findam ou se mudam.
O cansaço cobre tudo
com sua maré alta,
mas não traz peixes
nem conchas
nem corais,
traz algozes
e vozes roucas,
traz faltas,
inquietudes
e punhais.
Uma vida seca
jaz morta no copo
sobre o criado em luto
e sorri seu sorriso postiço
de quem já não mais se importa
e não tem nada a ver com isso.
Eu olho pra ela,
levo um susto
e assumo compromisso:
amanhã busco uma vida nova.
Num amanhã
que cada vez mais
sem querer e querendo
só me percebo ao lado teu
Moça Bonita.
e é isso
e lá nave vá...
neste Maio
a caminho de
Junho
antoniOCarlos
Música : Cinema paradiso ( Enio Morricone )- Josh Groban
Nenhum comentário:
Postar um comentário