terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

É de doer II


Melhor visto em tela cheia!!!

bjs

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Dust in the Wind


Paula Fernandes






 Se te pareço ausente, não creias:
 hora a hora minha dor agarra-se aos teus braços,
 hora a hora meu desejo revolve teus escombros,
 e escorrem dos meus olhos mais promessas.


 Não acredites nesse breve sono;
 não dês valor maior ao meu silêncio;
 e se leres recados numa folha branca,


 Não creias também: é preciso encostar
 teus lábios nos meus lábios para ouvir.

 Nem acredites se pensas que te falo:
 palavras
são meu jeito mais secreto de calar.



Hilda Hilst

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Quando a chuva passar




Paula Fernandes


 De quem é esta saudade
 que meus silêncios invade,
 que de tão longe me vem?
 De quem é esta saudade,
 de quem?
 Aquelas mãos só carícias,
 Aqueles olhos de apelo,
 aqueles lábios-desejo...
 E estes dedos engelhados,
 e este olhar de vã procura,
 e esta boca sem um beijo...
 De quem é esta saudade
 que sinto quando me vejo?

........................
Saudade -  Gilka Machado


...................................



Meu homem está nu 
lendo na cama. 
Sessenta anos 
e seis 
teme esse homem. 
E no entanto 
é cariátide sentada 
que o tempo aflora 
como aflora a pedra 
e que 
no meu olhar 
lhe lambe 
a pele. 

Marina Colasanti





e é isso!





sábado, 12 de fevereiro de 2011

Quero sim



Paula Fernandes


Despedida 

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero a solidão. 


Meu caminho é sem marcos nem paisagens. 


E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinho com o meu coração.
Não ando perdido, mas desencontrado.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação... 


Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão? 


Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...) 


Quero solidão...



Acordei então de uma profunda letargia
sozinho,vasta cama
o silêncio veio me encontrar 
quando amanheceu o dia


e então?
Solidão?


aNTONIocARLos
2o11 

e um mimo...
George Benson, Diana Krall e Erykah Badu

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Vagalumes


Paula Fernandes



POEMA DA NOITE


Essa chuva

Essa chuva não cai 
ela é atirada como se atiram pedras, 
lapida o ar ferindo folha e telha 
sangrando em lama o chão 
por entre os talos.
Essa chuva não cai 
ela é lançada com acerto de flecha 
por mão que bem conhece o seu ofício. 
E para o olho ausente 
tudo é alvo.

Marina Colasanti 

e é isso não é?
aNTONIocARLos
2o11

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Angel



paula fernandes




Oi Carlos

Há tanto tempo longe
e eu já tinha me esquecido
de como é gostoso
este come e dorme preguiçoso
nos dias frios das cidades do sul de Minas.

Cana Verde fica numa montanha
entre Lavras, Perdões e Campo Belo.

No meio das montanhas
a cidade é uma ilha.

A casa continua
com o cheiro de comida feita
pela vovó Cemica
no fogão de lenha,
embora hoje isso já seja
quase uma lenda.

Arroz, feijão, bife e tomate.
Um prato de torresmo
em cima da mesa
e um copinho de cachaça
esperavam para abrir o apetite.

A casa grande,
as portas grandes,
as janelas grandes.

Lembranças de uma menina ainda miúda.
O tic tac do relógio antigo na parede
conta os segundos.
Tic. Tac.
No quintal um pé de café
que plantei há muito anos.
Duas mangueiras,
uma videira,
uma figueira,
um limoeiro,
um pé de laranja,
alguns de milho.
Muitas flores.
O pinheiro
que costumávamos enfeitar nos natais
com estrelas, bolas e luas
que fazíamos de papelão
não mais existe.

As galinhas, os patos, os marrecos,
os ganços, os porcos e os gatos,
assim como as roseiras
e os pés de pocã também não.

Tudo sustenta o peso
das implacáveis mãos do tempo.

Na parede permanecem vivos os bisas.
Vô Lindolfo e Vó Felícia.
Vô Francisco Anastásio e sua Maria Mulata.
No centro Vó Miracema, Dona Cemica, e Vô Necésio.
Minhas raízes portuguesas
que vieram fincar raízes
aqui nesta terrinha.

Há três, quatro gerações
e eu estaria além mar.

Da varanda posso ver
o sol se pôr atrás das montanhas de Minas
e se refletir nas águas da represa de Furnas.

Quando pequena este espetáculo
costumava me fascinar
por horas antes, durante e depois.

Neste fim de semana
me pareceu diferente.

Lembrei-me então
das palavras de um amigo ( sabes quem)
que diz que muitas coisas
não crescem com a gente.

Coloquei-me de joelhos e, daqui,
vi as coisas como há vinte anos,
com os olhos de uma criança,
como sempre foram.

Este é o presente que o universo
deu para minha vó todos os dias,
durante quase cem anos...
Ê Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais....



Juliana C.Martins.

é isso moça bonita


fevereiro 2011
antoniOCarlos

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Jeito de Mato




Paula Fernandes



Ainda te levarei




Ainda te levarei 
Amor 
Para comer nozes frescas 
Na montanha 
E pendurar cerejas nas orelhas 
Como se fossem flores 
Ou rubis. 

As nozes 
Meu amor 
Mancham os dedos 
E são verdes e exatas 
Como ovos 

Mas as cerejas 
Ah! As cerejas 
São quando a cerejeira sua 
Seu manso sangue. 

Ainda te levarei àquela casa 
onde floriam lilases 
e serpentes tão claras quanto a água 
deslizavam ao pé das macieiras. 

Te mostrarei três lagos 
no horizonte 
três queijos maturando 
numa adega 
três lesmas 
escondidas sob um vaso. 

Estará tudo lá 
à nossa espera 
morangueiras quebradas 
lagartixas. 
Só não estará meu medo 
de menina 
aquele mais escuro que os ciprestes 
ecos no mato passos sobre a ponte 
garras na saia vento nos cabelos 
e o latejar das veias repetindo 

...estou sozinha 
e ninguém me salva

Marina Colasanti 
(Asmara, Etiópia, 26 de setembro de 1937)






e é isso moça bonita


aNTONIocARLos
2011