sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Nunca amamos alguém





Nunca amamos alguém.

Amamos, tão somente,
a idéia que fazemos
de alguém.


É a um conceito nosso
- em suma,
é a nós mesmos
- que amamos.

Isso é verdade
em toda a escala do amor.


No amor sexual
buscamos um prazer nosso
dado por intermédio
de um corpo estranho.

No amor diferente do sexual,
buscamos um prazer nosso
dado por intermédio
de uma idéia nossa.

As relações
entre uma alma e outra,
através de coisas
tão incertas e divergentes
como as palavras comuns
e os gestos que se compreendem,
são matéria de estranha complexidade.

No próprio ato
em que nos conhecemos,
nos desconhecemos.

Dizem os dois 'amo-te'
ou pensam-no
e sentem-no por troca,
e cada um quer dizer
uma idéia diferente,
na soma abstrata de impressões
que constitui a atividade da alma.



Fernando Pessoa,


Lembranças palpáveis
palpitam sincrônicas.
Ela fala do lugar-flor
dos desabrochares,
eu acho estranho
dançar em memórias
que não guardam ondas
nem sol em paredes roxas.

Ainda?
Raízes furando o cinza,
that's it, vermelho infiltrado,
a quina do quarto
marcada para sempre de vida,
o espanto bom
que parece nunca mais
vai me sair do olhar.

Dias quentes outra vez,
dura poesia concreta
do menino,
ironia, ironia,
que agora tem cabelos ao vento
nas esquinas de lá.

Alecrim, eu escolhi,
e aquela canção antiga
que traz em cada verso
muitos punhais.

E para quê,
você me pergunta,

para quê?
porque aqui
é o meu espaço do não-caminhar,
é onde as lembranças
são sempre construídas
e as palavras são sempre
a mesma palavra.

porque aqui
acaricio meus fantasmas,
acendo velas na penumbra
e molho os pés nas águas turvas.

porque aqui
é vermelho
e essência
e sopro.

e ainda palpita

ainda Cintila!

e é isso dona moça
neste janeiro enfim
janeiro fim
2o1o

antoniOCarlos


Música : Pepino Di Capri - Ancora Con Te

Nenhum comentário:

Postar um comentário