É hora, é hora.
Árdua, custosa.
Difícil a noite nesta casa.
Sob pensamentos repousam delírios.
Às onze despertam da mansidão açucena;
na boca um lacre custoso de abrir.
Quase como uma emboscada.
Os minutos derradeiros deste dia.
Prepara a carabina
porque o homem há de passar.
Mantém o seco dos olhos;
mas sob frinchas,
fendas e pernas
faz escorrer a meretriz
o líquido da noite.
Escorre tão branco
quanto o leite do sono.
Enegrecido no véu das horas.
Basta que o cortiço acene
com esse sono branco,
movediço por entre as fronhas,
cortinas;
basta que se apaguem
algumas velas;
para que a noite
derreta como larva
nos meus pés.
Abrem-se caminhos tortuosos,
noites;
mil e uma.
A fornalha do dia
decepou a calma.
Há abundância de desespero,
de ventos tolos
emancipando os cabelos.
Difícil os minutos entrecortados,
os que antecedem
a calmaria de amanhã.
Um sussurro ao longe
berra pro vizinho
que o silêncio chegou.
É hora de não-sei.
Deitar?
Eu não me deito.
Eu me acendo em soluços,
e tremo perante o confronto
dessa treva caindo
no abismo do fim do dia,
até que amanhã,
amanhã a noite
venha de novo buscar
o conforto doméstico
do quase escuro,
televisão ligada,
antes a vitrola,
os ritos dentro de casa
que vão mudando.
A família que se reúne
todas as noites,
antes do descalabro.
É quando tudo emudece,
até mesmo o som
corre a desaparecer
a algazarra de então.
Difícil demais,
custoso demais
fazer a casa aquietar-se,
o sono vir buscar as crianças,
os velhos,
e os moços.
Eu fico aqui,
objeto noturno,
satélite que também vem
apanhar seu vintém de luz.
É a parte que me cabe
neste pesadelo;
eu tremo as mãos,
antes do sonho bom.
É tudo o que eu posso fazer
por vocês.
Descrever esse fim de noite,
que me cheira a morte,
benedictus morte;
antes que eu me recomponha
do meu grito de soltura.
Antes que eu volte
com o grilhão da rotina.
Agora permanece
a roda liberta
do meu pensamento nu.
Tudo desacontece.
Sim, quase como uma morte.
Eu me transformo.
Eu me solidifico junto com a noite,
ganho maestria de desespero;
ignoro a sapiência.
Dubiedade de encantos.
Tudo pode ruir
se o ato não se fecha.
Basta uma voz mais duvidosa
no meio do meu caminho;
uma cortina ventando incerta;
olhar despreparado de toda mãe
para a morte do rebento,
que se despede
porque virou
essa sentinela do céu;
basta um entreluzir
de janelas que se olham,
para que o líquido da noite
vá escorrer em outro lugar
destroçando
o meu exército de sonhos
inteiro.
Destroça o meu reino
de virtuosidades.
Sombras justapostas,
milimetricamente adestradas
para estarem lá,
diante dos meus olhos,
descrevendo uma sensação.
Mas se por algum sortilégio
este encanto é rompido...
nem sei bem se é isso
o que meus nervos pedem.
Ele foi rompido agora.
Não posso trazê-lo pra vocês.
É sempre essa a hora
em que as mãos
repousam sobre o teclado,
a esfinge do pensamento
olha o pensamento contido,
todo imóvel antes de se ter.
E parece que foi sonho.
A imensidão desses encontros.
É como se me trouxessem
um Nazareno;
ouro,
incenso,
mirra.
A lisonja de olhar pro mundo
antes de ser mundo,
a noite antes da noite,
antecipando Deus.
É como se eu pudesse
perceber os deuses de um dia
se despregando dos céus,
para virem os deuses do outro.
O que eu posso
contra esse destino
que se agita sobre mim?
O meu véu é brando,
brando demais,
frágil demais
o meu sim.
Até que eu descanse
o meu sono calmo,
todas as horas do mundo
mergulharam aqui dentro,
parindo o dia.
Só me resta viver...
Apaixonavelmente,
por você...
Bom dia
Magia
Sorria moça bonita!!
aNTONIo
cARLoS
Gostaria de notificar que o presente texto (transformado em poema pelo autor do blog) é de autoria de Roberta Tostes. Grata.
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