segunda-feira, 18 de outubro de 2010

I never fall in love








Senhora das Tempestades


Não sei bem
de que cor são os navios
quando naufragam
no meio dos teus braços

sei que há um corpo
nunca encontrado
algures no mar

e que esse corpo vivo
é o teu corpo imaterial

a tua promessa
nos mastros
de todos os veleiros

a ilha perfumada
das tuas pernas

o teu ventre
de conchas e corais

a gruta onde me esperas
com teus lábios
de espuma
e de salsugem


os teus náufragos
e a grande equação
do vento e da viagem

onde o acaso
floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa
e descoberta.


Não sei de cor
onde é essa linha
onde se cruza
a lua e a mastreação


mas sei que em cada rua
há uma esquina
uma abertura
entre a rotina
e a maravilha


há uma hora de fogo
para o azul
a hora em que te encontro
e não te encontro


há um ângulo
ao contrário

uma geometria mágica
onde tudo
pode ser possível...



há um mar imaginário
aberto em cada página



não me venham dizer
que nunca mais
as rotas nascem
do desejo


e eu quero
o cruzeiro do sul
das tuas mãos


quero o teu nome
escrito nas marés
nesta cidade
onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido
ou num semáforo


todos os poentes

me dizem

quem tu és...


Manuel Alegre
in «Senhora das Tempestades»,
Dom Quixote, Lisboa, 1998 


e enquanto isso
esperei você
nestas ruas
nestas esquinas
nesta chuva
onde o sinal
estava
sempre aberto
e no entanto
você não viu...


neste outubro
moça bonita


eu

antoniocarlos

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