quarta-feira, 1 de junho de 2011
Magic
Por que este nome, ao sol?
Tudo escurece
de súbito na casa.
Estou sem olhos.
Aqui decerto guardam-se guardados
sem forma, sem sentido.
É quarto feito
pensadamente para me intrigar.
O que nele se põe assume outra matéria
e nunca mais regressa ao que era antes.
Eu mesmo, se transponho
o umbral enigmático,
fico a ser, de mim desconhecido.
Sou coisa inanimada, bicho preso
em jaula de esquecer, que se afastou
de movimento e fome.
Esta pesada
cobertura de sombra nega o tato,
o olfato, o ouvido.
Exalo-me.
Enoiteço.
O quarto escuro em mim habita.
Sou
o quarto escuro.
Sem lucarna.
Sem óculo.
Os antigos
condenam-me a esta forma de castigo.
Carlos Drummond de Andrade
e é isso moça bonita
enquanto isso...
EXALO-ME!
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