quinta-feira, 9 de junho de 2011

Um sonho a dois




Pelo silêncio
que a envolveu,
por essa
aparente distância
inatingida,
pela disposição
de seus cabelos
arremessados
sobre a noite escura:

pela imobilidade
que começa
a afastá-la talvez
da humana vida
provocando-nos
o hábito de vê-la
entre estrelas
do espaço e da loucura;

pelos pequenos astros
e satélites
formando nos cabelos
um diadema
a iluminar
o seu formoso manto,
vós que julgais
extinta Mira-Celi
observai neste mapa
o vivo poema
que é a vida oculta
dessa eterna infanta.

Essa pavana
é para uma defunta
infanta,
bem-amada,
ungida e santa,
e que foi encerrada
num profundo
sepulcro recoberto
pelos ramos
de salgueiros silvestres
para nunca
ser retirada
desse leito estranho
em que repousa
ouvindo essa pavana
recomeçada sempre
sem descanso,
sem consolo,
através dos desenganos,
dos reveses
e obstáculos da vida,
das ventanias
que se insurgem contra
a chama inapagada,
a eterna chama
que anima esta defunta
infanta ungida
e bem-amada
e para sempre santa.

Essa infanta boreal
era a defunta
em noturna pavana
sempre ungida,
colorida
de galos silenciosos,
extrema-ungida
de óleos renovados.

Hoje é rosa
distante prenunciada,
cujos cabelos
de Altair são dela;
dela é a visão
dos homens subterrâneos,
consolo
como chuva desejada.

Tendo-a a insônia
dos tempos despertado,
ontem houve enforcados,
hoje guerras,
amanhã surgirão
campos mais mortos.

Ó antípodas,
ó pólos,
somos trégua,
reconciliemo-nos
na noite dessa
eterna infanta
para sempre
amada.


JORGE DE LIMA
(1893-1953

~~~~
é isso moça
quando bater na porta
deixa entrar


antoniOCarlos
2o11


e aqui vai um MIMO para minha querida Diana
amiga ESPECIAL de Buenos Aires...





Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?


Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
Noutro canto da cidade
Como eles disseram


Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse
- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir
Festa estranha, com gente esquisita
- Eu não estou legal, não aguento mais birita
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
- É quase duas, eu vou me ferrar


Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard
Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo


Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
De Van Gogh e dos Mutantes
Do Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô
Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda estava
No esquema "escola, cinema, clube, televisão"


E, mesmo com tudo diferente
Veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia
Como tinha de ser


Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro e artesanato e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar
E ela se formou no mesmo mês
Em que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa
Que nem feijão com arroz


Construíram uma casa uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana e seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram


Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo
Tá de recuperação


E quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?


Eduardo e Mônica
by Legião Urbana

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