Não há mais bela música
que o ruído da maçaneta da porta
quando meu filho volta para casa.
Volta da rua, da vasta noite,
da madrugada de estranhas vozes,
e o ruído da maçaneta
e o gemer do trinco,
o bater da porta
que novamente se fecha,
o tilintar inconfundível
do molho de chaves
são um doce acalanto,
uma suave cantiga de ninar.
Só assim fecho os olhos,
posso afinal dormir
e descansar.
Oh! A longa espera,
a negra ausência,
as histórias de acidentes e assaltos
que só a noite como ninguém
sabe contar!
Oh! Os presságios e pesadelos,
o eco dos passos nas calçadas,
a voz dos bêbados na rua
e o longo apito do guarda
medindo a madrugada,
e os cães uivando
na distância
e o grito lancinante
de uma ambulância!
Quem será?
E o coração descompassado
a pressentir
e a martelar
na arritmia do relógio
do meu quarto
esquadrinhando
a noite e seus mistérios.
Nisso, na sala que se cala,
estala a gargalhada jovem
da maçaneta que canta
a festiva cantiga do retorno.
E sua voz engole
a noite imensa
com todos os ruídos secundários.
__Oh! Os címbalos do trinco
e os clarins da porta
que se escancara
e os guizos das muitas chaves
que se abraçam
e o festival dos passos
que ganham a escada!
Nem as vozes da orquestra
e o tilintar de copos
e a mansa canção
da chuva no telhado
podem sequer se comparar
ao som da maçaneta
que sorri
quando meu filho
volta.
Que ele retorne sempre
são e salvo,
marinheiro
depois da tempestade
a sorrir e a cantar.
E que na porta
a maçaneta cante
a festiva canção
do seu retorno
que soa para mim
como suave
cantiga de ninar.
Só assim,
meu coração se aquieta,
posso afinal
dormir
e descansar.
Ser PAI
é sonhar...
é isso
bom domingo
Antonio Carlos
Música : Wave -Alcione
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