Sonhos mortos
Olha, amigo: este mar,
que ora assim vês tão manso,
bateu, como um aríete, um dia,
sem descanso,
Os promontórios;
foi aos saltos, em cachões,
escalando, subindo as rochas
e sobre elas
estendeu a bramir,
no fragor das procelas,
o espumoso lençol dos negros vagalhões.
Agora o encrespa
a fresca brisa matutina,
a beleza do sol
as águas ilumina ...
E longe,
em direção desse horizonte infindo,
onde passam, nadando,
embarcações remotas,
vai-se da costa azul,
o páramo cindindo,
em trêmula revoada,
um bando de gaivotas...
Ali bóiam, porém,
contornando os ilhéus,
destroços de naufrágios;
e esse que os escarcéus
assassinaram, vão,
sob as ondas pesadas,
lívidos, a sangrar,
de costas ou de bruços,
a boca aberta
transbordante de soluços,
olhos vítreos,
olhando as águas sossegadas.
Meu coração
é como esse mal que,
tranqüilo,
beija as praias agora
em doce murmúrio.
Também chorou,
rugiu como ele...
Sem descanso
contra as rochas lançou-se
em tremendos embates,
todo um dia cruel
de insânia
e de combates.
Vês?
- Agora reflui apaziguado
e manso;
sem desejo
ou temor
de nova tempestade...
A carícia do sol
a voz mal se lhe escuta.
Mas o gênio,
a esperança,
a força,
a mocidade...
Ei-los mortos
na espuma
e no sangue
da luta...
Leconte de Lisle
e é isso
cara , doce
e suave amiga
AntonioCarlos
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