sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Piu Che Puoi




Canto-te para que tu
definitivamente
existas.
...

Canto o teu nome
porque só as coisas cantadas
realmente são
e só o nome pronunciado
inicia a mágica corrente.
...

Canto o teu nome
como o homem fazia eclodir
o fogo do atrito das pedras.
...
Canto o teu nome
como o feiticeiro invoca
a magia do remédio.
...
Canto o teu nome
como um animal uiva
de desespero.
...
Como os animais pequenos
bebem nos regatos depois
das grandes feras.
...
Canto-te
e tu definitivamente
existes nos meus olhos
sempre abertos
porque é sempre
os meus olhos
são os olhos da criança
que nós somos sempre
diante da imensidão
do teu espaço.
...

Canto-te
e os meus olhos sempre abertos
são a pergunta
instante pendente
de eu te interrogar
e interrogo as coisas
em seu ser noctumo
em seu estar
sombriamente presentes
na tua claridade
obscura.
...
E como é sempre
meus olhos abertos
prescrutam-te
símbolo de tudo
o que me foge
como apertar o ar
dentro das mãos
e querer agarrar-te
...
oh substância.
...

Canto-te
com a fragilidade
de tudo que existe
perante
uma eternidade
demasiado nocturna
para os nossos
olhos infantis
perante a tua
antiguidade
futura.
...
E a nossa voz
é uma pequena onda
no dorso
do teu oceano de matéria.
...
Um leve arrepio apenas
na espantosa espessura
de teu éter.
...

Ah no ar
é que tudo acontece
no ar nocturno
das idades esquecidas
que previamente
desconheceremos.
...
No espaço
é que tudo acontece
e o espaço
é uma grande onda
muito quieta
onde
os nossos olhos penetram
no não sabermos
até onde
ali
além
no além
onde tudo acontece.
...
Oh
oh espaço
de tudo ser tão ligeiro
e impalpável
e sermos nós
a respiração
do teu bafo ritmado
imperceptível distância.
..

Oh
augusta majestática
dignidade do silêncio
.
Oh
impassibilidade
da tua mecânica celeste
.
Oh
organismo primeiro
de todos os fins secretos
da compreensão
das coisas
.
Oh
inorgânico organismo
dos seres
que se devoram
.
Oh
diz a quem servimos
nós de pasto.
...

Canto-te
como quem pronuncia
o Mantra esotérico
do teu nome.
...
Canto-te e grito
para que a poeira
que se infiltra
em todas as coisas
se erga de ti
como um plâncton.
...

Oh Madre
matriz das criaturas inferiores
que rastejam
a teus pés
cobertas de pó
esse pó que a cada momento
ameaça submergir-nos.
...
Oh
aranha enorme
tecendo tua teia de pó
...
Oh
que desintegras tudo
e tudo tu constróis.
...
Ah
como nós lambemos
tuas duras mãos
.
Oh
que fustigas nossos olhos
com tua sombra
Enorme
.
Oh
que deixas tanto espaço
para o silêncio
das mil pétalas
dos mil braços esplendorosos
em seu abandono
dos murmúrios
dos afagos
sangue derramado
sobre o mundo.
.
Oh
Porque és sempre
tão premente?
e sempre estás
ausentemente
na tua constância
em todas as coisas?
..
Oh sono
Oh morte
tão desejada e longa
mágica povoada de átomos
milhões de espíritos
enchem o teu sopro.
...
E penetras em nós
como uma bala
E tudo morre
quando tu chegas.
...
E tudo se dilui
e se transforma em ti
alada presciência
de tudo acontecer
tão longe de nós
e tão antigamente
e tudo nos ultrapassa
com soberana indiferença
ante os nossos olhos
cegos pelo teu negrume
...
Oh
brilha para dentro de mim
acende teus luzeiros
em meus olhos
ergue teus braços
...
oh
prenhe de tudo
...
Oh
vaso
...
Oh via láctea
de nos amamentares
com teu leite
de sombra
...
Oh
úbere e pródiga
aleita tua ninhada faminta.
...
Grande fera luzidia
Grande mito
Grande deus antigo
...
Oh urna
onde todos dormimos
...
Oh
Meus olhos choram já
de tanto prescrutar-te
...
E canto-te
...
Canto-te
Para que tu existas
E eu não veja
mais nada além de ti
E nada mais deseje
senão que venhas outra vez
levar-me para dentro
do teu ventre
de nunca mais haver
...
E nada mais haver
que...

Oh tu
definitivamente além

Poemas de Eros Frenético e Contemporâneos
«um calculador de improbabilidades»,
Quimera - 1ª edição 2001
ANA HATHERLY (n. 1929)
e é isso
não é?
...
e eu não consigo mesmo
ver nada além
de ti...
...
sim
sinto
tua falta
teu corpo
teu perfume
tua boca
teu beijo
tua língua
teu calor
teu cheiro
teu ....
tudo
tudo
teu
...
eu sim
sinto
falta
...
sim!
...
sou um bobo mesmo
...
e daí?
...
eu/teu
mesmo que não saibas
mesmo que não queiras
...
em PAZ
dolotú
antoniOCarlos............quase!
se....tem....bro e chove
2o1o

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