domingo, 5 de setembro de 2010
Same Mistake
no líquido
luar
tateiam ...
Como, dentro do mar,
libérrimos, os polvos
no líquido luar tateiam
a coisa a vir
Assim, dentro do ar,
meus lentos dedos loucos
passeiam no teu corpo
a te buscar-te a ti.
És a princípio
doce plasma submarino
flutuando ao sabor
de súbitas correntes
frias e quentes,
substância estranha e íntima
de teor irreal
e tato transparente.
Depois teu seio
é a infância,
duna mansa
cheia de alísios,
marco espectral do istmo
onde, a nudez vestida
só de lua branca
eu ia mergulhar
minha face já triste.
Nele soterro a mão
como a cravei criança
noutro seio de que me lembro,
também pleno...
Mas não sei...
o ímpeto deste
é doído e espanta
o outro me dava vida,
este me mete medo.
Toco uma a uma
as doces glândulas em feixes
com a sensação que tinha
ao mergulhar os dedos
na massa cintilante
e convulsa de peixes
retiradas ao mar
nas grandes redes pensas.
E ponho-me a cismar…
– mulher, como te expandes!
Que imensa és tu!
maior que o mar,
maior que a infância!
De coordenadas tais
e horizontes tão grandes
que assim imersa em amor
és uma Atlântida!
Vem-me a vontade
de matar em ti
toda a poesia
Tenho-te em garra;
olhas-me apenas;
e ouço
no tato acelerar-se-me
o sangue,
na arritmia
que faz meu corpo vil
querer teu corpo moço.
E te amo,
e te amo,
e te amo,
e te amo
Como o bicho feroz ama,
a morder, a fêmea
Como o mar ao penhasco
onde se atira insano
e onde a bramir se aplaca
e a que retorna sempre.
Tenho-te
e dou-me a ti válido
e indissolúvel
buscando a cada vez,
entre tudo o que enerva
O imo do teu ser,
o vórtice absoluto
onde possa colher
a grande flor da treva.
Amo-te os longos pés,
ainda infantis e lentos
Na tua criação;
amo-te as hastes tenras
que sobem
em suaves espirais
adolescentes
e infinitas,
de toque exato e frêmito.
Amo-te os braços juvenis
que abraçam
confiantes
meu criminoso desvario
e as desveladas mãos,
as mãos multiplicantes
que em cardume acompanham
o meu nadar sombrio.
Amo-te o colo pleno,
onda de pluma e âmbar
onda lenta e sozinha o
nde se exaure o mar
E onde é bom mergulhar
até romper-me o sangue
e me afogar de amor
e chorar
e chorar.
Amo-te os grandes olhos
sobre-humanos
nos quais, mergulhador,
sondo a escura voragem
na ânsia de descobrir,
nos mais fundos arcanos
sob o oceano,
oceanos;
e além,
a minha imagem.
Por isso
– isso e ainda mais
que a poesia não ousa
quando depois de muito mar,
de muito amor
emergido de ti,
ah, que silêncio pousa
Ah, que tristeza cai
sobre o mergulhador!
in O Mergulhador - Vinicius de Moraes
ah, que silêncio pousa
neste inicio de setembro
buscando a cada vez
entre o tudo
que me
enerva
não é Moça Bonita?
2o1o
AntonioCarlos
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