"... duas pessoas
fizeram-me
a mesma pergunta;
A pergunta é:
"Para que serve a poesia?"
E eu disse-lhes:
Bom, para que serve a morte?
Para que serve o sabor do café?
Para que serve o universo?
Para que é que eu sirvo?
Para que é que servimos?"
Que coisa mais estranha
perguntar-se isso,
não é?
Jorge Luis Borges
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Sou agora menos eu
e os sonhos
que sonhara ter
em outros leitos despertaram
Quem me dera acontecer
essa morte
de que não se morre
e para um outro fruto
me tentar seiva ascendendo
porque perdi a audácia
do meu próprio destino
soltei ânsia
do meu próprio delírio
e agora sinto
tudo o que os outros sentem
sofro do que eles não sofrem
anoiteço na sua lonjura
e vivendo na vida
que deles desertou
ofereço o mar
que em mim se abre
à viagem mil vezes adiada
De quando em quando
me perco
na procura a raiz do orvalho
e se de mim me desencontro
foi porque de todos os homens
se tornaram todas as coisas
como se todas elas fossem
o eco as mãos
a casa dos gestos
como se todas as coisas
me olhassem
com os olhos de todos os homens
Assim me debruço
na janela do poema
escolho a minha própria neblina
e permito-me ouvir
o leve respirar dos objectos
sepultados em silêncio
e eu invento o que escrevo
escrevendo para me inventar
e tudo me adormece
porque tudo desperta
a secreta voz da infância
Amam-me demasiado
as cosias de que me lembro
e eu entrego-me
como se me furtasse
à sonolenta carícia
desse corpo que faço nascer
dos versos
a que livremente me condeno
Raiz de Orvalho ~ Mia Couto ~
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e é isso cara amiga...
como disse Charles Bukowski:
"Escrever
é uma forma de lamento.
Alguns simplesmente
lamentam melhor que os outros".
pena que não queres mais
ouvir meus lamentos
não é?
então
1/2 beijo sabor "no entanto"
d'eu
antoniOCarlos
julho
Música : It Might Be You - David Pomeranz with Dawn Dineros
Um desabafo e tanto!
ResponderExcluirUm beijo carinhoso.
Oieee
ResponderExcluirviu com eu venho aqui, atentadoooo
beijooo