domingo, 23 de maio de 2010

O que vês?






O que vês?

(...)




Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo

de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras

da tua existência.

Meu amor,

o que encontras
em teu poço fechado?


Algas, pântanos, rochas?


O que vês,

de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:


um ramo de jasmins

todo orvalhado,
um beijo mais profundo

que esse abismo.



Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.


Sacode a minha palavra

que te veio ferir
e deixa que ela voe

pela janela aberta.


Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada

com um instante duro
e esse instante

será desarmado em meu peito.



Radiosa me sorri
se minha boca fere.


Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador

que comparte contigo
terras, vento

e espinhos das montanhas.



Dá-me amor,

me sorri
e me ajuda a ser bom.


Não te firas em mim,

seria inútil,
não me firas a mim

porque te feres.



in O poço

Pablo Neruda

e é sempre assim

um poço

um vazio sem fim

e te ouço

mesmo longe

de mim

Antoniocarlos

Maio

2o1o



Música = CONTIGO EN LA DISTANCIA - Cristina Aguilera



Sorria!

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