quarta-feira, 26 de maio de 2010

Rebentar novo do de dentro




Duvido dos teus olhos tão meus,

tão perto,

como duvidaria do brilhante

achado no meio das bugigangas.


Desdenho das inquietudes

e dos bateres de asa no peito,

de um certo oco das pernas,

da efervescência dos nervos,

da fragilidade imiscuída na voz.


Melhor que não se apodere de mim

essa festa permanente,

esse tilintar de cristais,

essa promessa de estrela.


Não quero em mim

a instabilidade do vôo,

o medo da corda bamba sem rede,

a vertigem dos abismos latentes.


Duvido dos teus olhos

e eles estão tão perto,

tão perto.


Nego a mim as horas

bordadas de expectativa,

os planos mirabolantes de assédio,

a alienação de tudo quanto lembre

a ordinariedade daquilo que era,

que foi, antes, antes dos teus olhos,

como quem descrê de alturas improváveis

porque em mim

mora a dor da queda desamparada

e o gosto do nada.


Contudo,

moram em mim também agora

teu olhos.


Deito entre uma palavra e outra

e deixo que os sons me cubram,

me fecundem,

me emprenhem.


Quero o verbo a habitar meu ventre,

a crescer em minhas entranhas

para rebentar novo do de dentro,

cheio de meu sangue,

da minha placenta.


Quero me perpetuar em linhas,

me estampar em versos,

me traduzir em signos

porque cada vez que me criptografo,

me decodifico;

cada vez que

me metamorfoseio em metáforas,

mais nítida a minha imagem

no espelho.


Me fiz larva que se descobre crisálida

para saber da vida rastejante

que a povoa e

das suas promessas de asas.


Um cansaço de mil dias

veio deitar sua cabeça em meu peito

e fazer teias em meus cabelos,

veio calçar meus pés

com botas de chumbo

e me contar histórias

que ele não sabe

se findam ou se mudam.


O cansaço cobre tudo

com sua maré alta,

mas não traz peixes

nem conchas

nem corais,

traz algozes

e vozes roucas,

traz faltas,

inquietudes

e punhais.


Uma vida seca

jaz morta no copo

sobre o criado em luto

e sorri seu sorriso postiço

de quem já não mais se importa

e não tem nada a ver com isso.


Eu olho pra ela,

levo um susto

e assumo compromisso:

amanhã busco uma vida nova.


Num amanhã

que cada vez mais

sem querer e querendo

só me percebo ao lado teu

Moça Bonita.

e é isso

e lá nave vá...

neste Maio

a caminho de

Junho

antoniOCarlos



Música : Cinema paradiso ( Enio Morricone )- Josh Groban


Sorria!

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