quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ebb Tide





Sonhos mortos


Olha, amigo: este mar,

que ora assim vês tão manso,

bateu, como um aríete, um dia,

sem descanso,

Os promontórios;

foi aos saltos, em cachões,

escalando, subindo as rochas

e sobre elas

estendeu a bramir,

no fragor das procelas,

o espumoso lençol dos negros vagalhões.

Agora o encrespa

a fresca brisa matutina,

a beleza do sol

as águas ilumina ...


E longe,

em direção desse horizonte infindo,

onde passam, nadando,

embarcações remotas,

vai-se da costa azul,

o páramo cindindo,

em trêmula revoada,

um bando de gaivotas...

Ali bóiam, porém,

contornando os ilhéus,

destroços de naufrágios;

e esse que os escarcéus

assassinaram, vão,

sob as ondas pesadas,

lívidos, a sangrar,

de costas ou de bruços,

a boca aberta

transbordante de soluços,

olhos vítreos,

olhando as águas sossegadas.

Meu coração

é como esse mal que,

tranqüilo,

beija as praias agora

em doce murmúrio.

Também chorou,

rugiu como ele...

Sem descanso

contra as rochas lançou-se

em tremendos embates,

todo um dia cruel

de insânia

e de combates.

Vês?

- Agora reflui apaziguado

e manso;

sem desejo

ou temor

de nova tempestade...

A carícia do sol

a voz mal se lhe escuta.

Mas o gênio,

a esperança,

a força,

a mocidade...

Ei-los mortos

na espuma

e no sangue

da luta...


Leconte de Lisle


e é isso

cara , doce

e suave amiga

AntonioCarlos

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