segunda-feira, 21 de junho de 2010

Noites com sol





Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.

José Saramago

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...ECO
...ECO
...ECO


Num espelho,
onde sigo a água às cegas,
descubro em linhas
adormecidas,
a mascara das lágrimas.

Escrevo contos tristes
suspensos na morte
das borboletas.

Rostos separam as linhas
onde a sombra desenha paisagens
de olhos tristes

Tão tristes!

Cheiros invadem-me a tarde,
penso em ti
e com o coração
perto das ervas,
sorvo o mosto
da terra molhada,
num herbário
rendido ao tempo,
onde as borboletas
regressam devagar.
a chuva,
sentada num sofá
da cor da tristeza,
lê uma comédia escura,
onde te perdes no ontem.

Será o fim da Moça Bonita?

E na ausência do céu,
palavras fechadas
nas cores primarias
formam trípticos,
ao sul de historias assim.

E as borboletas voavam
com o dorso cheio de sombras
e a cor íngreme
era invadida
pela claridade adocicada
onde queimo os olhos.

E todos os dias,
a linguagem do sonho
era uma história noturna
onde o corpo
meu corpo
se transformava
na gramática da distância
dramática.

Era tudo novo,
entravas pelo sono
desenfreada
e envolvias-me em telas
onde o sol se inclinava
e a sombra queimava.

O meu corpo era atravessado
pelo perfume
das noites sobre noites
pelo teu cheiro
no meu corpo sob açoites

Tudo isto se abre
no espelho onde a água
tem horas imóveis,
o tempo é polido
pela oscilação das vozes.

Devagar atravesso-o,
guiado pelo delírio
das borboletas,
em pigmentos rubros,
onde pergunto pela cor
da queda das vozes.

Silêncio!

Onde a morte das borboletas
deixou impressões
em paisagens
onde nada existe.

Para onde me arrastas?

Tenho borboletas na boca
e digo palavras
perdidas ao espelho.

E na vertigem do reflexo
abraço-me aos sons
que palpitam puros
na paisagem com eco
vazio de você.

Mas junho
é assim
e eu penso
em ti
como uma miragem
fonte de águas
cristalinas
neste deserto
desta sede
de FELICIDADE
contigo...

Pode abrir a janela...
moça tão bonita
deixa o Sol entrar


AntonioCarlos
2o1o



Música : Noites com sol - Flavio Venturine

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