quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Tênis





Tênis X Frescobol

Depois de muito meditar sobre o
assunto concluí que os casamentos
são de dois tipos:

-Há os casamentos do tipo tênis
e há os casamentos do tipo frescobol.

Os casamentos do tipo tênis são uma
fonte de raiva e ressentimentos
e terminam sempre mal.

Os casamentos do tipo frescobol
são uma fonte de alegria e
têm a chance de ter
vida longa.

Explico-me.

Para começar, uma afirmação de
Nietzsche, com a qual concordo
inteiramente.

Dizia ele:
-"Ao pensar sobre a possibilidade do
casamento, cada um deveria se fazer
a seguinte pergunta:

-'Você crê que seria capaz de conversar
com prazer com esta pessoa
até sua velhice?'

"Todo o mais no casamento é transitório,
mas as relações que desafiam o tempo
são aquelas construídas
sobre a arte de conversar."

Xerazade sabia disso...

Sabia que os casamentos baseados
nos prazeres da cama
são sempre decapitados pela manhã,
terminam em separação,
pois os prazeres do sexo
se esgotam rapidamente,
terminam na morte...

Como no filme "O império dos sentidos".

Por isso, quando o sexo
já estava morto na cama,
e o amor não mais
se podia dizer através dele,
ela o ressuscitava
pela magia da palavra:

- Começava uma longa conversa,
conversa sem fim
que deveria durar
mil e uma noites.

O sultão se calava e escutava
as suas palavras
como se fossem música.

A música dos sons ou da palavra
- é a sexualidade
sob a forma da eternidade:
é o amor
que ressuscita sempre,
depois de morrer.

Há os carinhos
que se fazem com o corpo
e há os carinhos
que se fazem com as
palavras.

E contrariamente ao que pensam
os amantes inexperientes,
fazer carinho com as palavras
não é ficar repetindo
o tempo todo:

"Eu te amo, eu te amo..."

Barthes advertia:

-"Passada a primeira confissão,
'eu te amo'
não quer dizer mais nada."


É na conversa
que o nosso verdadeiro
corpo se mostra,
não em sua nudez anatômica,
mas em sua nudez poética.

Recordo a sabedoria de Adélia Prado:

"Erótica é a alma."

O tênis é um jogo feroz.

O seu objetivo é derrotar o adversário.

E a sua derrota se revela
no seu erro :
- O outro foi incapaz de devolver a bola.

Joga-se tênis para fazer o outro errar.

O bom jogador é aquele
que tem a exata noção
do ponto fraco do seu adversário,
e é justamente para aí
que ele vai dirigir a sua cortada
- palavra muito sugestiva,
que indica o seu objetivo sádico,
que é o de cortar,
interromper,
derrotar...

O prazer do tênis se encontra,
portanto, justamente no momento
em que o jogo
não pode mais continuar
porque o adversário
foi colocado fora de jogo.

Termina sempre
com a alegria de um e
a tristeza de outro.


O frescobol
se parece muito com o tênis:
dois jogadores,
duas raquetes
e uma bola.

Só que, para o jogo ser bom,
é preciso que
nenhum dos dois perca.

Se a bola veio meio torta,
a gente sabe que não foi de propósito e
faz o maior esforço do mundo
para devolvê-la gostosa,
no lugar certo,
para que o outro
possa pegá-la.

Não existe adversário
porque não há ninguém
a ser derrotado.

Aqui
ou os dois ganham
ou ninguém
ganha.

E ninguém fica feliz
quando o outro erra
- pois o que se deseja
é que ninguém erre.

O erro de um, no frescobol,
é como ejaculação precoce:

-Um acidente lamentável
que não deveria ter acontecido,
pois o gostoso mesmo é aquele
ir e vir,
ir e vir,
ir e vir...

E o que errou pede desculpas,
e o que provocou o erro
se sente culpado.

Mas não tem importância:
- Começa-se de novo
este delicioso jogo
em que ninguém
marca pontos...

A bola:
- São as nossas fantasias,
irrealidades,
sonhos sob a forma
de palavras.

Conversar
é ficar batendo sonho pra lá,
sonho pra cá...

Mas há casais
que jogam com os sonhos
como se jogassem tênis.

Ficam à espera do momento certo
para a cortada.

Camus anotava no seu diário
pequenos fragmentos para os livros
que pretendia escrever.

Um deles, que se encontra nos
"Primeiros Cadernos",
é sobre este jogo de tênis:

"Cena:
- o marido, a mulher, a galeria.

O primeiro
tem valor e gosta de brilhar.

A segunda
guarda silêncio mas,
com pequenas frases secas,
destrói todos os propósitos
do caro esposo.

Desta forma marca
constantemente a sua
superioridade.

O outro domina-se,
mas sofre uma humilhação
e é assim que nasce
o ódio.

Exemplo: - com um sorriso:

-'Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo'.

A galeria torce e sorri pouco à vontade.

Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe a mão suspirando:
-'Tens razão, minha querida'.

A situação está salva e o ódio vai aumentando."

Tênis é assim:
-Recebe-se o sonho do outro
para destruí-lo,
arrebentá-lo,
como bolha
de sabão...

O que se busca é ter razão e
o que se ganha
é o distanciamento.

Aqui, quem ganha
sempre perde.

Já no frescobol é diferente:
o sonho do outro
é um brinquedo
que deve ser preservado,
pois se sabe que,
se é sonho,
é coisa delicada,
do coração.

O bom ouvinte
é aquele que,
ao falar,
abre espaços para que
as bolhas de sabão
do outro voem livres.

Bola vai,
bola vem
- cresce o amor...

Ninguém ganha
para que os dois ganhem.

E se deseja então
que o outro viva sempre,
eternamente,
para que o jogo
nunca tenha
fim...

Rubem Alves




e é isso moça bonita
quando eu soltar
a minha voz
por favor entenda
que palavra por palavra
eis aqui uma pessoa
se entregando
...
nesta quinta feira
onde o Universo
conspira a nosso favor
esteja você onde for

aNTONIocARLos
2°1°

Frase do dia : Se você quer um arco-íris, tem que suportar a chuva

E como brinde de quinta feira, deixo uma tirinha de um personagem que ainda vou falar muito aqui : Rê Bordosa...

Enjoy it
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Música : Sangrando - Gonzaguinha

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